Novembro negro: como o SUS capixaba pode ajudar as pessoas negras a viverem mais e melhor
O Sistema Único de Saúde (SUS) capixaba pode ajudar as pessoas negras e pardas a viverem mais e melhor, revertendo a precocidade de mortes e melhorando a qualidade de vida dessa população. No Dia da Consciência Negra, neste 20 de novembro, é importante lembrar que há na rede pública uma atenção de saúde integral, acessível e gratuita, sendo também instrumento de promoção da igualdade racial.
Atualmente, há 2.110.803 de pessoas negras e pardas no Estado, segundo Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No entanto, esse número pode ser ainda maior, considerando que muitas pessoas não declaram a sua raça, o que dificulta a criação de indicadores de saúde que refletem a realidade.
Nesse grupo racial, há maior prevalência de doenças crônicas e infecciosas, que são, muitas vezes, evitáveis. Infarto agudo do miocárdio, hipertensão, diabetes mellitus, infarto cerebral, doenças pulmonares crônicas (provocadas por cigarro e exposição à poluição, produtos químicos, por exemplo) e Doença de Alzheimer, respectivamente, são as principais causas de mortes por doenças da população negra no Estado.
Muitas delas podem ser evitadas com hábitos de vida saudáveis, prática de exercícios, alimentação saudável, tratamento e acompanhamento médico regular. A população negra enfrenta o desafio das doenças genéticas ou hereditárias, como a doença falciforme e a diabetes mellitus, e infecciosas, como o HIV/AIDS, sífilis congênita e hepatites.
Principais causas de mortes da população negra no Estado
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Causa |
2023 |
2024* |
2025* |
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Infarto agudo do miocárdio |
210 |
203 |
113 |
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Hipertensão |
149 |
215 |
91 |
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Diabetes mellitus |
151 |
140 |
94 |
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Infarto cerebral |
102 |
122 |
57 |
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Doenças pulmonares obstrutivas crônicas (asma obstrutiva, bronquite crônica, bronquite obstrutiva crônica e traqueobronquite obstrutiva crônica) |
85 |
123 |
58 |
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Agressão por disparo de arma de fogo não especificada |
91 |
95 |
44 |
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Doença de Alzheimer |
70 |
65 |
48 |
Fonte: Sistema de Informações de Mortalidade (SIM). Observação: Banco atualizado até o dia 14/10/2025.
*Dados referentes a 2024 e 2025 sujeitos a revisão.
A referência técnica da Saúde da População Negra da Secretaria da Saúde (Sesa), Raquel Rosa Azevedo, explica que a Sesa se esforça, no momento, em mobilizar os municípios capixabas para inclusão de indicadores de saúde da população negra nos planos municipais de saúde.
“Neste ano, realizamos reuniões com os movimentos sociais que representam a população negra, além de conselhos, junto com o Ministério da Saúde e a Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz). Debatemos sobre a implementação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN) no Espírito Santo, instituída em 2009. Ela é considerada um marco na promoção da dignidade e da qualidade de vida das pessoas negras. A política reconhece o racismo como determinante social da saúde e orienta ações para reduzir as desigualdades étnico-raciais. Após 16 anos, sua efetivação ainda enfrenta desafios nos estados e municípios, demandando o fortalecimento da gestão e da formação para garantir a equidade no cuidado’’, afirmou.
Ela ressalta a importância da criação de diretrizes estaduais que sirvam como referência para os municípios no atendimento à saúde da população negra e parda. Embora esse grupo acesse com frequência os serviços do SUS, ainda enfrenta barreiras como o racismo institucional e as desigualdades sociais estruturais.
“É fundamental que a população negra conheça seus direitos e todas as ações que o SUS oferece, de forma diversa e equitativa, para a promoção da saúde e o enfrentamento das iniquidades”, concluiu.
Como o Sus pode ajudar a viver mais e com qualidade de vida
Check up: É importante realizar consultas médicas, pelo menos uma vez ao ano, para acompanhar como anda a sua saúde. Viver com qualidade de vida requer o cuidado contínuo consigo mesmo. Nas unidades básicas de saúde, há equipes preparadas para acolher e cuidar de você.
Remédios gratuitos: podem ser pegos diretamente nas unidades básicas ou nas 13 Farmácias Cidadãs do Espírito Santo. (LINK).
Planejamento familiar: todas as pessoas têm direito de decidir se querem ter filhos, quantos e quando. Nas unidades básicas de saúde, você encontra orientação gratuita, métodos contraceptivos e acompanhamento para planejar sua vida reprodutiva com segurança e autonomia. Cuidar da saúde sexual e reprodutiva é um direito de todos.
Pré-natal: O pré-natal é a maneira mais segura de proteger a saúde da mãe e do bebê. A mortalidade materna ainda é maior entre as mulheres negras — por isso, não abra mão desse direito. As unidades de saúde e os hospitais estaduais estão preparados para acolher cada gestante com uma atenção humanizada e integral.
Saúde mental: equipes das unidades de saúde podem ajudar com a indicação de terapias para tratar ansiedade, estresse, vícios em geral e diversas doenças mentais. Pedir ajuda é um ato de coragem.
Violências em geral: os profissionais de saúde são capacitados para atender vítimas de violências e dar os encaminhamentos na rede de cuidados para o atendimento integral das vítimas nos hospitais ou unidades de saúde. Procure ajuda.
IST’s: previna-se contra as Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST’s). O uso de preservativos masculinos e femininos é a melhor forma de evitar IST’s. Eles são gratuitos nas unidades básicas de saúde, que também oferecem testes rápidos e tratamento seguro.
Racismo: por lei, todos os espaços, sobretudo os de promoção da saúde, devem ser inclusivos e respeitosos com qualquer pessoa, independente da raça. Denúncias sobre o racismo podem ser feitas na Ouvidoria da Sesa, pelo telefone 0800 022 11 17 e pelo site https://e-ouv.es.gov.br/.
Letramento racial
Com o princípio de promoção de equidade, o Instituto Capixaba de Ensino, Pesquisa e Inovação em Saúde (ICEPi) da Sesa tem uma equipe que oferta oficinas sobre letramento racial para outros setores da Sesa, como a realizada aos trabalhadores da Saúde e da Educação, a pedido da comissão de heteroidentificação da Sesa.
A supervisora da gestão pedagógica do Icepi e uma das oficineira desses processos formativos, Elda Alvarenga, destaca a importância da reeducação racial para desconstruir o racismo na saúde.
“Temos muitas conquistas sociais, mas precisamos considerar que são mais de 500 anos de opressão da população negra no país. O racismo está enraizado na sociedade. Os índices sobre violência mostram que as vítimas são, em sua maioria, pessoas negras. Quando pensamos em exclusões de classes, as comunidades periféricas, onde essa população vive, são as mais impactadas”, explicou.
Na saúde, ela faz um convite a reflexão sobre a igualdade racial na atenção à saúde. “Temos mais estudos sobre câncer de pele, que atinge às pessoas brancas, do que sobre a anemia falciforme, por exemplo, que atinge uma parcela significativa da população negra. Precisamos ter políticas públicas de saúde que promovam a equidade”, enfatizou.
Informações à Imprensa:
Assessoria de Comunicação da Sesa
Syria Luppi / Luciana Almeida / Danielly Campos / Thaísa Côrtes / Ana Cláudia dos Santos