22/01/2024 18h00

Arte como uma forma de cuidado dentro do CAPS Cidade

A arteterapia é um caminho importante dentro do processo terapêutico para quem sofre de algum transtorno mental. O Centro de Atenção Psicossocial, o CAPS Cidade, localizado em Cariacica, utiliza essa prática como um dispositivo de cuidado. Entre as oficinas ofertadas, têm-se o grupo “Criart”, na qual os usuários que apresentaram afinidade efetiva com a arte desenvolvem atividades de pintura, desenho e escrita.

A prática de usar a arte como uma forma de cuidado comparece espontaneamente no CAPS Cidade, seja por parte dos próprios usuários ou sejam a partir do estímulo e incentivo por parte de profissionais. Segundo explicou a coordenadora do CAPS Cidade, Adriana Lúcia de Souza Zoppi, a arteterapia promove a livre expressão, seja por via da escrita, do desenho ou da pintura.

“A linguagem artística expressa uma manifestação psíquica e subjetiva. É um potente dispositivo de cuidado para proporcionar a valorização dos sujeitos, por oferecer um lugar social, como o artista, a escritora, diferente do estigma do louco incapaz. Além disso, leva à inserção social e comunitária, à medida que exposições são feitas e convites surgem para que os usuários sejam palestrantes, isso sem falar do apoio financeiro, uma vez que via a geração de renda, aquilo que produzem é comercializado por eles próprios”, frisa Zoppi.

De acordo com a coordenadora, os CAPS, de maneira geral, desenvolvem atividades de geração de renda pautadas na perspectiva da Economia Solidária, em que os próprios usuários são gestores de todo o processo, desde a compra de materiais, a produção, a venda dos produtos, até a organização financeira. “No nosso caso, parte dos materiais é fornecida e a outra parte é comprada a partir da produção e venda. Mas sempre com a participação efetiva de cada produtor, que também cuida da precificação de suas artes, assim como a venda. As vendas ocorrem aqui dentro, em Feiras de Economia Solidária e no espaço térreo do CRE Metropolitano”, disse.

 

Sentimento de paz ao pintar

Usuária do Caps Cidade, Sônia Jesus da Cruz ressaltou que a “arte lhe traz paz”. “Quando faço uma natureza, por exemplo, imagino que a pessoa que está vendo minha arte vai se imaginar naquele lugar, só ela no meio daquele verde, com os pássaros, sentindo o vento, porque é assim que me vejo quando estou pintando, só eu e o mundo”, contou.

O usuário do Caps Cidade, Igor Dias dos Santos, também disse sentir paz quando está pintando e que a prática o faz esquecer algumas frustrações. “Eu sinto como se tivesse dando uma pausa, me livrando um pouco de todos os julgamentos. Fico bem ao pintar”. Na pintura, Igor diz que gosta de retratar mulheres. “Eu acho que a mulher que mais expressei em minhas telas até hoje foi a Frida Kahlo, talvez por ela ser uma mulher de descendência indígena, gosto de retratar mulheres. Mas também já pintei muito a doutora Ana Domingues Carvalho, nossa antiga coordenadora”.

Lisa Vago Rosa também é usuária do CAPS Cidade e sua paixão pela arte vem desde criança. “Sempre amei desenhar e pintar, mostrar minha arte da maneira como vejo o mundo e as coisas ao meu redor. Mais do que uma maneira de me expressar, sempre foi um tipo de refúgio. Abrir um caderno de desenho com meus lápis coloridos do lado era como passar por uma porta e entrar num lugar seguro e tranquilo, onde eu conseguia pensar e organizar minhas ideias e emoções. A arte salvou minha vida!”

Ela explica que após o seu diagnóstico e o início do tratamento no CAPS Cidade é que conseguiu se ver realmente como uma artista: “O acesso ao tratamento foi só o início. Comecei a me estabilizar emocionalmente e a viver mais tempo bem do que mal. As pessoas dedicadas que me acolheram aqui me ajudaram a reencontrar o meu desejo de viver e desenterraram o meu sonho.”

Atualmente, Lisa divide seu tempo entre o pequeno negócio de sublimação que abriu com a ajuda da família CAPS, com uma máquina comprada por meio de uma rifa promovida e abraçada com amor pelos colegas pacientes e seus familiares e o scrapbook digital. Ela fabrica canecas, copos, camisetas, bolsas, bonés e muitas outras coisas personalizadas, além de trabalhos digitais com fotografias e produtos imprimíveis.

“Em cada desenho há um pouquinho de mim, da minha história, dos meus anseios, medos, desejos, sonhos e do meu jeitinho de ver o mundo, e com eles me conecto. Eu espero que cada pessoa que tenha contato com a minha arte sorria se sentindo vista, compreendida, abraçada e acolhida, que encontre nela um mundo melhor, mais suave. Eu vivo feliz tentando tocar corações ao redor do mundo. E conseguir tirar meu sustento desse trabalho que amo e me faz sentir cada dia mais realizada, mais digna e com mais desejo de viver”, salientou.

 

Como funciona o CAPS Cidade

- Realiza acolhimento diário a todos que chegam no serviço, seja por demanda espontânea, encaminhados ou agendados. Inicialmente é realizado o acolhimento inicial e, posteriormente, o caso é levado para a reunião de equipe multiprofissional para avaliação técnica. Quando o usuário não apresenta perfil para inserção em CAPS é feito o encaminhamento para a Unidade Básica de Saúde de referência do usuário;

- Quando há a inserção no CAPS, é elaborado um Projeto Terapêutico Singular (PTS) e o usuário passa a receber um cuidado integral em saúde mental, com diferentes ofertas de serviços e de profissionais, desde consulta médica, enfermagem, psicoterapia, terapia ocupacional, serviço social e até assistência farmacêutica. Também são realizadas atividades em grupos e oficinas terapêuticas. O trabalho se pauta na lógica da clínica ampliada, da reabilitação psicossocial e da inserção social, com foco no cuidado comunitário, na liberdade e na promoção da autonomia, do protagonismo e da cidadania;

- Atende seis regiões de saúde de Cariacica e cinco Residências Terapêuticas; 

- Oferece cuidado a adultos com transtornos mentais graves e persistentes, em vulnerabilidade psicossocial, que necessitam de suporte multiprofissional simultâneo e integrado;

- Atualmente, o local conta com uma sala de arte, coordenada por um profissional, para realização de reuniões em que a logística da distribuição dos materiais, organização da sala, dentre outros assuntos, são definidos coletivamente. Também são realizadas oficinas de expressão e comunicação, de artesanato, de sarau poético e de escrita criativa. A pintura em tela se dá espontaneamente pelos usuários-artistas do local.

 

Informações à Imprensa:

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