A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) se reuniu, na manhã desta quinta-feira (03), com prefeitos, secretários municipais de saúde, representantes do Ministério Público e da Defensoria Pública do Estado, órgãos do Executivo Estadual, entidades médicas, instituições de ensino da área da saúde, entre outros públicos, para o Seminário sobre a Rede Cuidar – A Nova Saúde Pública Capixaba. Na reunião, foi apresentado o andamento do processo de planificação da atenção à saúde e o projeto de implantação da Rede Cuidar, com o objetivo de manter a transparência do trabalho que vem sendo feito e de aprofundar o conhecimento de todos sobre esses projetos prioritários da pasta.

O vice-governador do Espírito Santo, Cesar Colnago, participou da reunião, assim como o secretário de Estado da Saúde, Ricardo de Oliveira; os subsecretários de Estado da Saúde, Francisco José da Silva, Fabiano Marily, Engre Tenório e Carlos Tesch; o conselheiro do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Eugênio Vilaça, e o consultor técnico do Conass, Marco Antônio Bragança de Matos; o presidente da Associação dos Municípios do Espírito Santo (Amunes) e prefeito de Linhares, Guerino Zanon; a presidente do Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Espírito Santo (Cosems-ES), Andreia Passamani; e o presidente da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales), o deputado estadual Hércules da Silveira, entre outras autoridades públicas.

Colnago ressaltou a importância da Rede Cuidar. "Como médico, sempre acreditei na saúde pública, principalmente na gestão qualificada e integrada para oferecer serviços que atendem às expectativas da população. A Rede Cuidar vai além da regionalização. É um salto na oferta de serviço público de saúde, que promove a completa integração e humanização do atendimento", afirmou.

O secretário de Estado da Saúde, Ricardo de Oliveira, ressaltou que a Rede Cuidar é fruto do trabalho em conjunto da Secretaria da Saúde e das prefeituras, e que, sem esta interação, não seria possível. “A Rede Cuidar é o resgate do sentimento principal do SUS: cuidar da saúde das pessoas de forma contínua, respeitando as questões regionais e fortalecendo a atenção primária. O trabalho da porta de entrada e a correta classificação dos pacientes vão conduzir as pessoas à atenção especializada, que vai estar preparada para garantir consultas e exames mais perto de casa e com qualidade. E mais, com um plano de cuidado para que as pessoas tenham melhor qualidade de vida”, comentou.

Na avaliação de Pretta Cani, superintendente da Secretaria de Estado da Saúde na Região Norte, onde a Rede Cuidar está em estágio avançado de implantação, a Rede Cuidar vem para dar um rumo ao trabalho realizado na região. Ela ressaltou que as 14 prefeituras locais se uniram em torno de um objetivo: preencher as lacunas no atendimento da saúde da população e dar qualidade a este atendimento. “Isso faz bem não apenas para os pacientes, mas é um incentivo aos trabalhadores da área de saúde, que estão muito motivados para reescrever o SUS e tornar o Norte ainda mais forte”, acrescentou.

É possível fazer

O consultor em saúde pública e conselheiro do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Eugênio Vilaça, comentou que a população está envelhecendo e vivendo mais, o que é bom. No entanto, isso significa também uma carga maior de doenças crônicas que precisam ser tratadas. “Doença crônica a gente não cura, a gente trata. A pessoa vai ter hipertensão e diabetes, por exemplo, por toda a vida. Mas nós temos um sistema que é frágil e descontínuo para tratar dessas pessoas. E assim elas vão piorando, vão perdendo o pé, por conta do pé diabético, vão ficando cegas. Não é por falta de consulta, é por falta de um modelo de atenção adequado. Então, já que não podemos mudar a condição de saúde dessas pessoas, vamos mudar o sistema”, enfatizou.

Vilaça destacou que a atenção primária é a inteligência do sistema de saúde, e encorajou os prefeitos a investirem no projeto de mudança do modelo de trabalho. “Nós estamos na maior crise que o país e que a saúde já viveram. Nós podemos lamentar a crise ou podemos vê-la como oportunidade de mudança. Os recursos diminuíram, mas com o dinheiro que tem dá para fazer. Talvez não dê para fazer tudo, mas dá pra fazer uma revolução, dá pra fazer uma atenção primária de qualidade”, argumentou o especialista.

O presidente da Associação dos Municípios do Espírito Santo (Amunes) e prefeito de Linhares, Guerino Zanon, disse que a Rede Cuidar é um pleito antigo dos municípios capixabas e convocou os colegas prefeitos a abraçarem esse novo modo de cuidar da saúde para que ele se solidifique e não seja interrompido com a passagem das administrações. “A Rede Cuidar é uma grande conquista para a Saúde. Peço que se algum município ainda não se convenceu disso, que se convença, porque é uma grande mudança”, disse.

Segundo Zanon, hoje os municípios têm gasto com combustível, diária de motoristas, manutenção de ambulâncias, entre outros custos, e com as cinco unidades da Rede Cuidar funcionando haverá uma economia significativa de recursos públicos. “Teremos uma economia de R$ 3 milhões por ano. Além disso, teremos um ganho que não pode ser mensurado monetariamente, que é o bem-estar dos nossos cidadãos, que hoje se desgastam em longas viagens para serem atendidos longe de casa”, comentou o presidente da Amunes.

Dois em um

O processo de planificação da atenção à saúde é um movimento de organização do atendimento do cidadão desde a unidade básica de saúde, passando pela atenção ambulatorial especializada de média complexidade até a atenção hospitalar. Pode-se dizer que a planificação prepara o terreno para receber a Rede Cuidar, que é a nova forma de cuidar do cidadão capixaba. São dois projetos interligados.

Entre os benefícios da Rede Cuidar estão o atendimento mais próximo do cidadão, evitando deslocamento para a Grande Vitória, redução do tempo de espera para consultas e exames e um atendimento personalizado e humanizado. A novidade é que o usuário do Sistema Único de Saúde (SUS) poderá realizar consultas e exames no mesmo local, com uma equipe multiprofissional, e sairá do atendimento com um plano de cuidado que inclui dicas de nutrição e de atividades físicas. Com a implantação das cinco unidades (Nova Venécia, Santa Teresa, Guaçuí, Linhares e Pedra Azul) da Rede Cuidar, a estimativa é que 1 milhão de pessoas deixem de ser direcionadas para atendimento na Grande Vitória.

Neste momento, a Sesa está trabalhando intensamente para identificar os principais problemas de saúde em cada região e organizar o atendimento ao usuário desde a unidade básica de saúde, observando como o cidadão é acolhido, quais são os problemas que precisam ser resolvidos dentro da atenção primária, quais devem ser encaminhados para a atenção especializada e como se dá o fluxo do paciente da atenção básica para a atenção especializada, além da organização do processo de trabalho dentro da unidade de atendimento especializado. Atualmente, o processo de planificação da atenção primária está bastante avançado no Norte, onde será aberta a primeira unidade da Rede Cuidar.

O que muda

O modelo de trabalho proposto pela planificação muda muito da rotina de hoje dentro da atenção primária, e é uma nova forma de fazer atendimento especializado. A abertura das unidades da Rede Cuidar é um processo de trabalho novo, em que a equipe de saúde da unidade produz um plano de cuidados para cada paciente. Esse plano é feito pelo conjunto de especialistas da unidade (médico, enfermeiro, nutricionista, educador físico, assistente social etc.) junto com o paciente, em função do problema de saúde do cidadão.

Assim, o paciente não mais será atendido por um especialista e sairá da consulta com uma receita médica e um pedido de exames. O atendimento vai gerar dentro da unidade um plano de cuidados, que vai ser gerenciado, no dia a dia, pela equipe de atenção primária do município onde esse cidadão mora. Então, existe uma interação muito grande entre a unidade de especialidades da Rede Cuidar e a equipe do Programa de Saúde da Família (PSF) do município onde o cidadão vive.

A atenção primária vai acompanhar o paciente para ver se ele está seguindo a dieta recomendada, se está fazendo atividade física, se está cuidando de uma lesão do pé diabético, se está tomando a medicação de forma adequada, se os exames que ele tinha que fazer foram realizados, enfim, isso tudo vai ser gerido pela atenção primária. E os dois serviços, PSF e Unidade Cuidar, vão interagir o tempo todo.

A metodologia da planificação pode ser aplicada tanto em serviços novos, como é o caso da Rede Cuidar, quanto naqueles que já estão funcionando, para remodelar o processo de trabalho. Mais à frente, o modelo de trabalho dos Centros Regionais de Especialidades (CREs) deverá passar por essa adaptação. E numa segunda etapa, já iniciada, a planificação da atenção à saúde deve avançar para outro ponto de atenção que é o hospital.

Conass

O Conselho Nacional dos Secretários de Saúde é um órgão que congrega os 27 secretários estaduais de saúde do país e discute com o Ministério da Saúde, representando todos os secretários estaduais, como se faz as políticas públicas do SUS no Brasil todo. O Conass sempre procura introduzir ferramentas novas para qualificar a gestão do SUS e tem grupos técnicos para propor inovações na gestão do Sistema Único de Saúde.

A planificação da atenção à saúde é uma dessas propostas de inovação trazidas pelo Conass. É uma metodologia que o Conselho construiu com base no modelo de atenção às condições crônicas de saúde. Um dos principais teóricos desse tema é o professor Eugênio Vilaça, que tem várias publicações sobre o assunto. Ele ajudou na formulação dessa metodologia e o Conass está disseminando isso pelo país. Além do Espírito Santo, outros estados estão adotando essa mesma ferramenta para organizar a atenção especializada na parte ambulatorial.

O processo de planificação começou com uma ação concreta no primeiro semestre do ano passado. O secretário de Estado da Saúde, Ricardo de Oliveira, buscou uma parceria com o Conass para trazer a metodologia de gestão da atenção ambulatorial especializada para o Espírito Santo. A partir das primeiras agendas, decidiu-se começar a Rede Cuidar com a abertura de uma unidade no Norte e, a partir da experiência de lá, replicar para as outras regiões, abrindo as demais unidades de atendimento especializado.

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