22/09/2014 06h13 - Atualizado em 23/09/2015 13h41

CIHDOTT: ensinando a compartilhar vidas

Em uma época em que o termo "compartilhar" virou febre mundial por conta das redes sociais, nada melhor do que aprender a compartilhar vidas. Quem assiste a uma reportagem na TV sobre transplante de órgãos, não imagina o trabalho logístico, legal, e principalmente, emocional envolvido por trás de todo o processo. O verbo doar é usado com muita propriedade em campanhas na área de saúde e é, justamente, esse o trabalho da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT): sensibilizar as pessoas sobre a importância da doação.

Regulamentada pela Portaria nº 905/GM/MS, em 16 de agosto de 2000, a CIHDOTT é composta de uma equipe multidisciplinar formada por médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, e é obrigatória em hospitais públicos, privados e filantrópicos com mais de 80 leitos.

No Hospital Estadual Dr Jayme Santos Neves (HEJSN), a CIHDOTT iniciou suas atividades em junho de 2013 sob a coordenação conjunta do médico Éric Teixeira Gaigher e da enfermeira Rosemary Gomes Sabadini. “O trabalho da CIHDOTT é dar apoio emocional e acompanhamento psicológico para que a família sinta segurança, e entenda que nossa missão é salvar uma vida, e não tirar a vida de quem ela ama,” explicou a enfermeira.

“Seja a parte fundamental na vida de alguém”. Esse é o slogan da CIHDOTT implantada no HEJSN, uma tentativa de desmistificar crenças sobre doação e, mais do que isso, construir um legado de cuidado e amor ao próximo. “A Associação Evangélica Beneficente Espírito Santense, a AEBS, trabalha muito com o lado humano dos pacientes e é, justamente, esse trabalho que nós buscamos implantar na CIHDOTT. Tentamos esclarecer todas as dúvidas da família acerca da questão do transplante, mas se mesmo assim a família do possível doador não expressar o desejo de doar os órgãos, então respeitamos a decisão,” frisou Rosemary Sabadini.

O passo a passo para a doação de órgãos acontece em dois níveis: córneas e múltiplos órgãos. Na doação de córneas é preciso que o óbito tenha acontecido, pois é necessário que o coração já tenha sessado suas atividades. Outro fator importante, para que a doação de córneas possa acontecer, é preciso que seja observado um tempo limite de seis horas contadas a partir da morte do paciente. Além disso, as doações seguem alguns critérios estabelecidos como a faixa etária, que deve ser entre 02 e 75 anos de idade. Não ter infecções, doenças do tipo transmissíveis e, principalmente, o consentimento da família.

A diferença entre transplante de córnea e de múltiplos órgãos é que para doar as córneas, o coração tem que estar parado e nos demais casos é preciso comprovar a morte encefálica, entretanto, por meio de aparelhos, a equipe precisa manter o coração em atividade. Essa comprovação de morte encefálica obedece a um rigoroso protocolo para constatar se o paciente responde a estímulos neurológicos, e esse procedimento se da com dois exames com um intervalo de seis horas, entre um exame e outro, de acordo com as normas do Conselho Federal de Medicina. “Mas um terceiro exame, de cunho complementar, que pode ser um eletroencefalograma ou uma arteriografia cerebral, pode ser realizado via imagem ou descarga elétrica, para comprovar definitivamente se ainda há, ou não, atividade cerebral. Os três exames tem que dar a mesma resposta, ou seja, o diagnóstico de que o cérebro morreu,” informou Rosemary Sabadini.

Esses exames só podem ser realizados em uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) com o paciente entubado, conectado a um respirador e recebendo medicamento. A confirmação de morte encefálica serve para comprovar que o paciente está realmente morto, somente a partir dessa confirmação é que serão avaliados os demais critérios para uma possível doação (faixa etária adequada, saúde e autorização da família).

Após a entrevista com a equipe do hospital, e se a família autorizar o transplante, é feita a verificação de compatibilidade com a fila de espera. Somente após esse processo, ocorre a liberação definitiva para a doação. Entra então em cena a equipe de captação de órgãos. “Após a autorização da família e a captação, é tudo muito criterioso para não deixar margem para dúvidas. Temos sempre o cuidado de deixar claro para a família quais órgãos foram captados” esclarece Louise Machado Lima, assistente social do HEJSN.

Diante de todo o processo, é preciso olhar sob o ponto de vista do paciente em fila de espera. Tente sentir a angústia, de um dia após o outro, a expectativa do surgimento de um possível doador. Conviva com a deficiência de um órgão frágil, com a espera consciente pela morte. Adicione-se a isso o sofrimento familiar. Conseguiu? A dor em perder um familiar pode ser recompensada com a certeza de que uma vida, ou mais vidas, foram salvas por um gesto de amor. Então, “seja a parte fundamental na vida de alguém”.



Doação entre vivos

De acordo com a lei, a doação em vida só é permitida entre parentes até segundo grau. Fora isso, é preciso entrar na justiça para solicitar esse tipo de transplante, a medida é para evitar o comércio e tráfico de órgãos. A doação em vida é aplicada apenas em órgãos duplos como os rins, e no caso do pulmão e fígado, é extraída apenas uma parte do órgão. A medula óssea também pode ser doada em vida.


Função da CIHDOTT

- Detectar possíveis doadores de órgãos e tecidos no hospital;
- Viabilizar disgnóstico de morte encefálica, conforme resolução do Conselho Federal de Medicina nº 1480/97;
- Criar rotinas para oferecer aos familiares de pacientes falecidos no hospital a possibilidade de doação de córneas e outros tecidos;
- Articular-se com a Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos (CNCDO) para organizar o processo de doação e captação de órgãos e tecidos;
- Responsabilizar-se pela educação continuada dos funcionários da instituição sobre os aspectos da doação e transplantes de órgãos e tecidos;
- Articular-se com todas as unidades de diagnósticos necessárias para atender aos casos de possível doação;
- Capacitar, em conjunto com a CNCDO e o Sistema Nacional de Transplantes, os funcionários do estabelecimento hospitalar para a adequada entrevista familiar de solicitação e doação de órgãos e tecidos.

Informações à Imprensa:
Assessora de Comunicação HEJSN
Ravane Denadai
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