06/04/2005 08h14 - Atualizado em 23/09/2015 09h32

Crefes volta a treinar equipe de basquete com cadeirantes

Bola na cesta! Com o treinamento realizado com atletas deficientes, o Centro de Reabilitação Física do Espírito Santo (Crefes) marca mais um ponto. O retorno da prática de basquete com cadeirantes, em março, trouxe, além dos quatro atletas da equipe masculina, nove mulheres que também partem para mais esse novo desafio.

Os novos e antigos atletas, que compõem as equipes, já são usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) que participam das rotinas médicas do Crefes. Todos fazem ou já fizeram fisioterapia ou hidroterapia, além do acompanhamento médico e outros tratamentos necessários à reabilitação de cada um.

O Crefes possui oito cadeiras especiais para prática do basquete. As cadeiras são fabricadas para dar mais mobilidade, agilidade, estabilidade e equilíbrio ao atleta. Para cada tipo de lesão é preciso observar a altura da cadeira e o controle que o atleta possui com o tronco. Nesse ano, o Crefes deve receber mais 12 cadeiras o que possibilitará que um número maior de pessoas possa usufruir desse serviço.



O treinamento contempla, além da preparação física, aulas de iniciação aos fundamentos do basquete. De acordo com a professora de Educação Física e treinadora da equipe, Raquel Santos Silva, as aulas são realizadas duas vezes por semana, mas, a intenção é ampliar esse número para quatro.

Uma equipe titular possui 10 pessoas: cinco na quadra e cinco reservas. Raquel conta que trabalha o grupo muscular dos atletas e, na quadra, está treinando arremesso, drible e passe. Ela diz que o desempenho da maioria surpreende. “A força de vontade deles é muito grande, o que facilita o trabalho”.

“Eu tento passar para todos da equipe que a vitória dentro de quadra é importante, mas só de cada um vencer esse desafio já é uma grande vitória. O importante é a socialização, a integração e o fato de estarem vencendo os próprios limites”, enfatiza a treinadora.

O Crefes já é referência nesse trabalho e, de acordo com Raquel, possui alguns nomes que já fizeram ou fazem parte de equipes profissionais de basquete. Ramirez dos Anjos Matias, Carlos Alberto Policatti, Anderson Oliveira Gonçalves e Flávio Cardoso Pereira são alguns exemplos.

Casos

A prática de esportes acelera o processo de recuperação do deficiente físico e traz, além disso, algumas vantagens como conta Jeremias Souza Lima, 38 anos, que já participava da equipe de treinamento do Crefes, anterior a essa. “Para mim é uma forma de extravasar, de lazer. O basquete aumenta minha disposição”.

Jeremias mora no município da Serra. Teve poliomielite (paralisia infantil) e conta que as maiores dificuldades que encontrou, inicialmente, nesse esporte foram o domínio da bola e o arremesso. Hoje ele ajuda a técnica a orientar o restante da equipe.

Mairlan Motta, 33, também já havia treinado antes e afirma que com o basquete passou a ter maior mobilidade com a cadeira de rodas. Mairlan tornou-se paraplégico quando, aos 22 anos de idade, foi vítima de seqüela de PAF (Projétil de Arma de Fogo). “Há mais ou menos quatro anos tive de voltar a fazer tratamento no Crefes. Foi quando voltei a fazer basquete. Me sinto muito melhor praticando esporte”, conta Mairlan.

Um caso parecido é o de Patrícia Pereira Santos, 27, que há três anos também foi vítima de PAF, em um assalto na loja onde trabalhava. Além de ter se tornado paraplégica, houve, inicialmente, o comprometimento da fala, pois o projétil atingiu o maxilar. “No início foi muito difícil me adaptar a nova vida. Só mesmo com muita força de vontade consegui superar as dificuldades”, conta Patrícia.

Com dois filhos, um com 10 e outro com oito anos, Patrícia diz que sempre tentou mostrar para as crianças que era possível superar os problemas buscando sempre o lado bom das coisas. Ela voltou a estudar e termina o 2º grau este ano. Conta que adora a dança de quadrilha. “Foi na festa junina que voltei a me sentir gente de novo”, relata.

Em relação ao basquete, Patrícia fala que ainda sente um pouco de medo mas o fato de poder fazer musculação e participar da musicoterapia a estimulou bastante. “Tudo para deficiente é mais difícil. Há algum tempo que tento fazer musculação em academias próximas à minha casa e não encontro nenhuma que esteja preparada para treinar deficientes”, lamenta.

História

O Crefes foi criado em 1979, como Unidade de Reabilitação Físico-motora e, vinculado à Secretaria de Estado do Bem Estar Social. Em 1985 foi transformado em autarquia e recebeu sua nomenclatura atual.

Em 1990 deixou de ser ligado à Secretaria de Estado do Trabalho e Ação Social para fazer parte da Secretaria de Estado da Saúde (SESA). Em 2000 recebeu um prêmio por adesão ao programa “Qualidade no Serviço Público Federal”.

Para ser atendido no Centro de Reabilitação Física do Espírito Santo o paciente precisa ser encaminhado por profissionais dos hospitais do Sistema Único de Saúde.

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Texto: Cynthia Silva
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