27/02/2013 12h02 - Atualizado em 23/09/2015 13h36

Entrevista: Carlos Ianaze, arquiteto responsável pelo projeto do Hospital Estadual Dr. Jayme Santos Neves

Com mais de 100 projetos arquitetônicos de hospitais, postos de saúde, prontos-socorros, prontos-atendimentos e demais estabelecimentos de saúde no currículo, Carlos Ianaze, 63 anos, acumula a experiência de mais quatro décadas na área, pela qual se interessou ainda na graduação. “Perguntei para alguns professores qual a área da arquitetura que poderia desafiar o profissional de uma forma mais consistente, a resposta foi arquitetura hospitalar, que reúne todas as outras arquiteturas: institucional, residencial e a de serviço”, relembra.

Segundo ele, o Hospital Estadual Dr. Jayme Santos neves foi o maior que já projetou e um dos mais modernos - não deixa nada a desejar a nenhum outro empreendimento privado, ganhando, inclusive, elogios do ministro da Saúde, Alexandre Padilha. Ianaze destacou a postura do Governo do Estado de ter bancado essa iniciativa, que cria novas perspectivas para o entendimento de ‘hospital público’ no Brasil, não só na arquitetura, mas no funcionamento – com características de humanização, acessibilidade e ecologicamente correta.

Com escritório sediado em São Paulo, Ianaze respondeu a perguntas por telefone porque no dia da inauguração ficou poucas horas no Estado para acompanhar o nascimento do ‘filho’. Acabou voltando para a Capital paulista com uma única decepção: não ter apreciado uma moqueca capixaba.

O Hospital Estadual Dr. Jayme Santos Neves foi o maior que o sr. já projetou?

Esse sem dúvida foi o maior. Eu particularmente fiquei muito emocionado. Para mim foi uma realização profissional. Foi importante porque está dentro da nossa proposta de humanizar o espaço hospitalar, isso a gente vê na prática. A gente vê a expectativa, conversei muito com os enfermeiros lá dentro. Tenho enorme ansiedade de estar atendendo pessoas, ajudando pessoas.

Qual foi o maior desafio de construir um Hospital tão grande?

Na minha opinião foi a credibilidade. Tentar passar uma ideia, como o próprio ministro falou, que hospital público não precisa ser feio. A gente tinha o desafio de criar um hospital humanizado, mas sem perder os outros pontos importantes que a gente tem que prever que são a sustentabilidade, acessibilidade, flexibilidade. O Hospital tem que absorver intervenções futuras.

A praça central e as varandas em formato de onda foram muito elogiadas, entre outros pontos. De onde surgiu a ideia de projetar um Hospital com aquelas características?

Eu estive no Hospital Dório Silva antes de começar o projeto. Eu acho muito importante ter uma referência local para ver o que você pode fazer para contribuir, para melhorar. Na ocasião eu fiz uma visitação que durou bastante tempo, umas quatro horas. Quando eu cheguei, vi uma pessoa com uma criança no colo, no estacionamento, vigiando inclusive os carros, porque estava no caminho.

Aí eu fiquei curioso e perguntei se ela era uma pessoa que estava acompanhando alguém ou estava fazendo uma visita, ela me disse que trouxe a criança do quarto para tomar um pouco de banho de sol, era uma coisa que ela gostava de fazer porque a criança estava com problema de saúde.

Então, por conta disso, eu fiquei pensando na minha volta para São Paulo o que eu poderia fazer em função daquilo que eu senti, daquela pessoa. E foi o que me deu a ideia de chegar aqui e rabiscar uma grande bola verde no meio do papel e dizer que o Hospital deveria se desenvolver ao redor dessa praça.

Não se trata apenas de um projeto arquitetônico, abrange outras questões...

O mais importante é a ordenação do fluxo, porque o acesso do visitante é totalmente independente da circulação dos pacientes. Por exemplo, o visitante entra no saguão principal, ele passa pelo corredor e chega ao hall de elevadores privativos do visitante.

Os elevadores dos pacientes são todos lá dentro da Unidade. Então, o paciente internado nunca cruza com outra pessoa que pode estar fazendo um exame de preventivo. Fora isso, toda a circulação de serviço, a saída de material da lavanderia, dos serviços de nutrição e que se encaminham para as unidades de internação seguem um corredor separado da visitação.

Quanto tempo o sr. levou para executar o projeto?

É interessante porque até quase terminar a obra, às vezes o projeto muda. Por conta da dinâmica, da tecnologia de equipamentos. Não é só isso, existe toda uma oferta de inovações de procedimentos que acontecem. Então, o arquiteto tem que estar muito atento a determinadas mudanças, a determinadas opções que ele pode ter ao longo da própria obra. Eu acho que o projeto em si, se for somar o tempo todo, porque ele acontece também durante o período da obra, entre início e fim, levou uns dois anos.

Esse Hospital deixa alguma coisa a desejar aos demais hospitais particulares?

Não, não deixa nada a dever a qualquer outro melhor hospital. É um dos mais modernos. Quando nós iniciamos o processo todas as pessoas que tiveram e que precisavam nos orientar a respeito desse Hospital disseram que queriam o melhor em relação à qualidade, de melhor atendimento do paciente. Disseram que a gente poderia até ousar.

Por exemplo, o quarto de internação desse Hospital é um desenho inédito no País. E nós, como autores dessa ideia, temos que começar a implantar em outras unidades, como se fosse uma referência. Além disso, embora não exista determinação legal, todos os banheiros do Hospital são adaptados para portadores de necessidades especiais.

Tudo isso acresce metro quadrado para construção, tudo isso acresce custo. Mas o próprio Governo, com a ideia de que tinha que fazer o melhor pela população, como se fosse um hospital de referência, que pudesse até mudar a cultura dos hospitais públicos desse país, apostou e falou assim: “vamos fazer”, e fez.

O sr. disse que o projeto recebeu elogios inclusive da Vigilância Sanitária...

Durante todos esses anos foi a primeira vez que recebi um elogio de um profissional da área da Vigilância Sanitária. O desenho da circulação e os fluxos foram colocados de uma maneira muito correta. O mais importante de tudo é que passa um determinado momento de um projeto arquitetônico de engenharia que se transforma depois em um projeto de esperança.

Eu fico muito feliz de estar contribuindo com isso porque eu senti, conversando com enfermeiros e médicos, que existe uma expectativa muito grande e uma ansiedade muito grande de ajudar o paciente muito em função de uma alegria que eles encontraram vendo um espaço um pouco mais digno, um espaço um pouco mais confortável, um espaço um pouco mais pensado, como um hospital público.

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