26/02/2008 12h45 - Atualizado em 23/09/2015 13h19

Pesquisas no Estado apontam novo tratamento para infecções por micobactéria

A micobactéria causadora do surto no Espírito Santo acaba de ser identificada: Mycobacterium massiliense. Com isso, a proposta de um novo tratamento com mais eficiência e reduzidos efeitos colaterais já é realidade. A novidade é resultado de pesquisas realizadas pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), por meio do Laboratório Central (Lacen), e pelo Núcleo de Doenças Infecciosas (NDI) da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

A nova terapia proposta pela Sesa e pelo NDI foi oficializada nesta terça-feira (26), por meio de portaria publicada no Diário Oficial do Estado (DIO).

O estudo foi apresentado semana passada ao Ministério da Saúde (MS), em Brasília, e ficou definido que os testes do Espírito Santo deverão se tornar referência para o tratamento das infecções por micobactéria no Brasil.

Os pacientes serão reavaliados pelos médicos do Centro de Referência para o Tratamento de Micobactéria no Estado, que fica no Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes (Hucam), e a troca dos medicamentos será definida de acordo com a especificidade do caso.

Existem mais de 100 espécies de micobactérias catalogadas no mundo, e, para chegar à Mycobacterium massiliense, foi preciso desencadear uma série de exames laboratoriais.

A pesquisa

Por ser uma bactéria pouco conhecida, com os primeiros casos descritos em 2005, ainda não há métodos disponíveis para a realização dos exames, o que requer laboratórios altamente especializados. Por isso, o processo até a identificação da espécie e da sensibilidade da bactéria aos medicamentos foi realizado no Lacen, no NDI e na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

O Lacen recebeu todas as amostras de biópsia dos pacientes para realizar a análise de cultura, o que tornou possível detectar quais pacientes estavam infectados pelo microorganismo.

De acordo com a farmacêutica bioquímica Rita Lecco, referência do Lacen no assunto, para atender a demanda do surto foi preciso criar um esquema de plantão, já que as amostras deveriam ser processadas dentro de 24 horas após a coleta. “Sistematizamos as informações através de ficha de notificação e comunicação diária de resultados aos hospitais envolvidos, além de informações semanais à Coordenação Geral de Laboratório do Ministério da Saúde”, destaca.

Nas amostras com bactéria foram realizados mais dois exames, chamados moleculares, em que é analisado o DNA do germe. O objetivo era identificar qual espécie de micobactéria se instalou no Estado.

Primeiro, identificou-se a que grupo elas pertenciam, com um procedimento realizado no Lacen, no Centro de Referência Prof.º Hélio Fraga e no NDI. Já a identificação da espécie Mycobacterium massiliense foi feita pelo NDI e pela Unifesp.

“Mesmo com a certeza de que havia apenas uma espécie no Estado, o que facilitaria o tratamento, precisávamos certificar se ela é clonal, ou seja, se a espécie se multiplica com as mesmas características genéticas. Só assim teríamos condições de apontar os melhores tratamentos e ter certeza que poderiam ser usados em todos os pacientes”, explicou o professor de microbiologia do NDI Moisés Palaci.

Esse segundo exame molecular, mais complexo e complementar, foi realizado na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), único laboratório até o momento capaz de realizá-lo. O resultado obtido mostrou que a espécie é clonal.

Além disso, também foi preciso avaliar a sensibilidade da bactéria aos medicamentos já utilizados. Os exames microbiológicos para verificar se os medicamentos utilizados eram os mais recomendados foi desenvolvido no NDI pela farmacêutica bioquímica Cynthia Pinheiro. Com base nos resultados, foram analisados novos remédios para saber quais poderiam ser utilizados com mais eficácia e com baixos efeitos colaterais.

Atualmente, há 190 pessoas em tratamento no Estado. Os dois esquemas terapêuticos utilizados no Espírito Santo até hoje foram indicados pelo MS e padronizados pelo Centro de Referência Nacional Prof. Hélio Fraga, Rio de Janeiro.

Os novos tratamentos propostos pela Sesa e pelo NDI resultaram em três diferentes esquemas terapêuticos possíveis.

Entenda o caso

Julho – início do surto. Desde então, a Sesa, por meio da Coordenação Estadual de Controle de Infecção Hospitalar (CECIH), desencadeou uma série de ações para controle, tratamento da doença e fiscalização das normas de infecção hospitalar, para evitar novos casos. O primeiro passo foi investigar os casos já diagnosticados para identificar a origem do surto e estabelecer as condições e fluxo de envio de amostras para pesquisa laboratorial de micobactéria no Lacen. Depois, a Sesa definiu um Centro de Referência, na Hucam, para tratamento da infecção com médicos especializados e dispensação dos medicamentos e instituiu um comitê com profissionais especializados no assunto, para avaliar e definir estratégias para elucidação e controle do surto;

Setembro – foi identificado, pelo Lacen e NDI, o grupo de micobactérias causadoras da infecção;

Novembro – início dos testes de determinação da sensibilidade das micobactérias aos medicamentos;

Janeiro – resultado da análise de identificação da espécie Mycobacterium massiliense no Estado;

Fevereiro – foram realizadas análises molecular, para definir se a espécie é clonal, e microbiológicas, para certificar a eficácia dos medicamentos. Além disso, chegou-se à proposta do novo tratamento para a Mycobacterium massiliense.

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