15/05/2015 12h26 - Atualizado em 23/09/2015 13h43

Saúde mental: vencer o preconceito é um dos desafios

A área de saúde mental ainda enfrenta grandes desafios, entre eles a necessidade de ampliar e melhorar a rede de atenção a pacientes com transtornos psíquicos e a urgência de vencer o preconceito contra essas pessoas. É para estimular a discussão sobre esse assunto tão importante e complexo que existe o Dia Nacional de Luta Antimanicomial, que será celebrado na próxima segunda-feira (18).

Na avaliação da coordenadora estadual da Área Técnica de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), Maristela de Amorim Coelho, predomina na sociedade atual a cultura da exclusão, o que torna complexo o trabalho de inserção e manutenção da pessoa com transtorno mental na vida social e dificulta ainda a implementação de serviços voltados para o cuidado desse paciente em ambiente extramuros.

Segundo ela, a Secretaria de Estado da Saúde vem trabalhando na construção de uma portaria para estruturar a rede hospitalar de saúde mental por meio de hospitais filantrópicos. A intenção é remunerar esses hospitais com recursos estaduais durante um ano, tempo necessário para que eles requeiram ao Ministério da Saúde a habilitação dos leitos de saúde mental. Paralelamente, a rede será ampliada para os hospitais estaduais.

“A criação desses leitos será muito importante para o atendimento do paciente com transtorno mental, mas vale ressaltar que a internação hospitalar deve ocorrer somente em caso de descompensação do quadro clínico ou do quadro psiquiátrico do paciente. O tratamento deve ser feito nas Unidades Básicas de Saúde e nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), que são geridos pelos municípios”, explica.

Rede básica

É o que faz hoje, por exemplo, o paciente Alexandre de Souza Nascimento, 28 anos, de Santa Maria de Jetibá. A história dele, que tem esquizofrenia, é um bom exemplo de como o convívio social faz toda diferença na qualidade de vida do paciente com transtorno psíquico. Uma das irmãs dele, Regiane BraunEbret, 24 anos, é casada, tem um filho e enfrentou o preconceito de muitas pessoas quando decidiu tirar o irmão de uma internação de dez anos e cuidar dele em casa.

“As pessoas diziam para eu não visitá-lo nem tirá-lo da internação porque eu teria que cuidar dele para o resto da vida, mas eu sentia no meu coração essa vontade. Eu sentia saudade dele. Quando minha mãe adotou o Alexandre, ele tinha menos de 1 ano de idade. Ele foi criado com a gente. Ele está há um mês em casa e está feliz, graças a Deus. Ele se dá muito bem comigo, com meu filho e com meu marido”, conta Regiane Braun Ebret.

A reaproximação dos irmãos foi intermediada pelo CAPS de Santa Maria de Jetibá, que atende 450 pacientes e oferece todo o suporte para o tratamento e a reinserção social de pessoas com dependência química e transtorno mental grave. No local, Alexandre Nascimento é atendido por uma psicóloga semanalmente e faz acompanhamento médico de 15 em 15 dias para controlar a medicação. Além disso, toda semana ele é assistido pela enfermagem e desenvolve trabalhos manuais na oficina de artes.

“Nossa assistente social também tem ajudado a família a providenciar benefícios aos quais ele tem direito e está orientando quanto a outras questões legais. Toda semana nós visitamos a casa, até mesmo por uma cobrança do Alexandre. Bem no início ele não queria ir ao CAPS porque tinha medo de ser internado de novo, mas por meio das visitas nós conseguimos criar um vínculo com ele. Tudo o que podemos fazer para ajudar a melhorar a situação dessa família nós estamos fazendo”, diz a coordenadora do Centro de Atenção Psicossocial do município, Franciane Surdini Valli Kempim.

Ela ressalta que a atitude de Regiane BraunEbret não é comum, e diz que o CAPS de Santa Maria de Jetibá vem trabalhando a divulgação do serviço e a conscientização das famílias em parceria com a Estratégia de Saúde da Família. “A Regiane gosta de cuidar, mas nem todo mundo é assim. Por isso estamos trabalhando muito com capacitação dos agentes de saúde, para que eles informem às famílias que existe o serviço na cidade e que, diante de uma situação de dependência ou transtorno, é necessário buscar tratamento o quanto antes”, detalha FrancianeKempim.

Agenda social

A coordenadora estadual da Área Técnica de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas, Maristela de Amorim Coelho, enfatiza que estabelecer um cuidado humanizado em saúde mental exige o envolvimento de muitos atores sociais. Do ponto de vista do Sistema Único de Saúde (SUS), ela explica que é necessário haver investimento dos governos federal, estadual e das administrações municipais, tanto para prover estrutura física adequada quanto para promover a qualificação dos profissionais.

Por outro lado, segundo Maristela Coelho, sem a participação da sociedade civil, e de modo especial das famílias, por mais que o Estado garanta um serviço de qualidade ainda assim a sociedade ficará devendo à população que sofre de transtornos psíquicos. “Isso porque o principal desafio é oferecer cidadania a essas pessoas, considerando que o país tem um histórico de abandono daqueles que sofrem de transtornos mentais. Até um passado recente, toda prática de saúde mental visava o isolamento do paciente. Tanto que o lema do movimento de luta antimanicomial, que reúne pacientes, familiares, profissionais de saúde e pessoas solidárias à causa, é trancar não é tratar”, conclui.

Maristela Coelho salienta que um hospital ou uma clínica que se proponha a cuidar de pacientes com transtorno mental pode ter as melhores instalações e uma excelente equipe técnica, mas se suas práticas de trabalho isolam os pacientes a instituição não atende à Política Nacional de Saúde Mental.

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